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Nunca juntos mas ao mesmo tempo
por Thierry Illouz
A literatura é um segredo, um mistério. A narrativa de Wagner Schwartz reconduz esta surpresa e, mais ainda, de um jeito renovado, constrói uma história no sentido mais forte do termo — a de Adeline —, que perturba e fascina por um sistema de revelações e de silêncios. E é isso que nos interpela, esse jeito de reter a informação romanesca, de fazer dos seus furos, das suas ausências, dos seus brancos, um elemento narrativo.
A personagem está, no entanto, potentemente presente através das relações que ela entretém com seu entorno: o café onde trabalha, a amiga que frequenta, o amante. Essa relação com o mundo tece literalmente um novelo que desenha uma personalidade.
O que salta aos olhos nessa narrativa — e desta vez a expressão é absolutamente justificada —, é, antes de tudo, a própria inscrição do texto na página, o vazio em torno do texto. Tal fato não é um simples dispositivo editorial, e sim uma intenção de escrita, como se o autor escrevesse também com o vazio. A personagem está, ela mesma, inscrita no mundo da mesma maneira, por aquilo que recusa explicar, dizer, contar. Adeline retorna frequentemente a essa necessidade, ou a essa vontade teimosa de guardar para si certos elementos da narrativa. Por este procedimento, o leitor entra no romance, ele supõe, inventa, reconstitui. É tudo aquilo que anima o rito literário em jogo: a falta, a ressonância, o espaço partilhado entre o leitor e o personagem, a troca. A emoção se instala, se entranha como o silêncio sobre um rosto e dele esculpe os traços.
Aproximam-se progressivamente as tramas, as forças de tensão — o trabalho e suas obrigações, o amor e suas decepções, a amizade, a maternidade. Tudo circula, tudo faz sentido, a palavra e o que lhe segue: o branco. Como uma vibração, um distúrbio, uma empatia inexplicável, um elo entre os seres, um elo trágico, no sentido literal, um elo que tudo contém do tecido das vidas.
Nunca juntos mas ao mesmo tempo, diz o título. Este enunciado parabólico desvela e deslinda a abordagem do autor: dar conta do paradoxo de toda humanidade, essa separação original, e, todavia, conjunta, simultânea das existências.
Adeline é uma figura familiar, uma figura de nós, um reflexo complexo. Ela é partilhada entre a sua inquietação e o seu papel consciencioso de fazer o que ela tem de fazer e de viver sua vida. E nós a seguimos, a olhamos, a ouvimos, bebemos suas palavras e aceitamos suas recusas.
Schwartz consegue, do seu jeito, com seu próprio vocabulário, com sua maneira profundamente poética, convocar um mundo, inaugurar uma rede de imagens, de momentos, de palavras. E traça uma nova vereda, audaciosa, que, após a leitura, permanece suspensa em nós, como um êxito do sentido e da linha dos destinos.
[Tradução: Ivo Guilherme (in memoriam)]
Jamais ensemble mais en même temps
par Thierry Illouz
La littérature est un secret, un mystère. Le récit de Wagner Schwartz reconduit cette surprise et, plus encore, d’une façon renouvelée, construit une histoire au sens fort du terme — celle d’Adeline —, qui perturbe et fascine par un système de révélations et de silences. Et c’est cela qui nous interpelle, cette façon de retenir l’information romanesque, de faire de ces creux, de ces absences, de ces blancs, un élément narratif.
Le personnage d’Adeline est pourtant puissamment présent à travers les relations qu’elle entretient avec son entourage : le café où elle travaille, l’amie qu’elle fréquente, l’amant. Cette relation avec le monde tisse littéralement un écheveau qui dessine une personnalité.
Ce qui saute aux yeux dans ce récit — et cette fois l’expression est absolument justifiée —, c’est d’abord l’inscription même du texte dans la page, le vide autour du texte. Cela n’est pas un simple dispositif éditorial, mais bien une intention d’écriture, comme si l’auteur écrivait aussi avec le vide. Le personnage lui-même est inscrit dans le monde de la même manière, par ce qu’il refuse d’expliquer, de dire, de raconter. Adeline revient souvent sur ce besoin, ou cette volonté farouche de garder pour elle certains éléments du récit. C’est par ce procédé que le lecteur entre dans le roman, il suppose, invente, reconstitue. C’est tout ce qui anime le rite littéraire en jeu : le manque, la résonance, l’espace partagé entre le lecteur et le personnage, l’échange. L’émotion s’installe, se creuse comme le silence sur un visage en sculpte les traits.
On saisit progressivement les enjeux, les forces de tensions — le travail et ses obligations, l’amour et ses déceptions, l’amitié, la maternité. Tout circule, tout fait sens, le mot et ce qui le suit : le blanc. Comme une vibration, un trouble, une empathie inexplicable, un lien entre les êtres, un lien tragique au sens premier, un lien qui contient tout le tissu des vies.
Jamais ensemble mais en même temps, dit le titre. Cet énoncé parabolique dévoile et précise l’approche de l’auteur : rendre compte du paradoxe de toute humanité, cette séparation originelle et pourtant conjointe, simultanée des existences.
Adeline est une figure familière, une figure de nous-même, un reflet complexe. Elle est partagée entre son souci et son application consciencieuse à faire ce qu’elle a à faire et vivre sa vie. Et nous la suivons, nous la regardons, nous l’entendons, nous buvons ses paroles et acceptons ses refus.
Schwartz parvient à sa façon, avec son propre vocabulaire, sa manière profondément poétique, à convoquer un monde, à inaugurer un réseau d’images, de moments, de paroles. Et il trace un sillon nouveau, audacieux, qui, demeure après la lecture, suspendu en nous, une réussite du sens et de la ligne des destins.
Never together but at the same time
by Thierry Illouz
Literature is a secret, a mystery. Wagner Schwartz's narrative conveys this surprise and, furthermore, builds a story—that of Adeline—in the strongest sense of the term and in a renewed manner, which disturbs and fascinates us through a system of revelations and silences. And this is what challenges us, this way of retaining the novelistic information, while making a narrative element out of its holes, its absences, and its blank spaces.
However, the character is powerfully present through the relationships she holds with her surroundings: the cafe where she works, the friend she spends time with, the lover. This relationship with the world literally entwines a skein that delineates a personality.
What stands out in this narrative—and the expression here is absolutely justified—is, first and foremost, the very inscription of the text on the page, the emptiness around the text. This is not merely an editorial device but is the writer's intention, as if the author was also writing with this emptiness. The character herself is inscribed in the world in the same way, through that is which is refused to be explained, told and recounted. Adeline often returns to this need or stubborn desire to keep certain elements of the narrative to herself. The reader enters into the novel through this procedure, supposing, inventing and reconstituting. It is everything that animates the literary rite at stake: the lack, the resonance, the space shared between the reader and the character, the reciprocation. Emotion sets in, and fades like silence on a face, sculpting out its features.
The plots and tension forces gradually come together—work and its obligations, love and its disappointments, friendship, and motherhood. Everything circulates, everything makes sense, the word and what follows it: the blank space. It's like a vibration, a disturbance, an inexplicable empathy, a bond between beings, a tragic bond, in the literal sense, a bond that contains everything from the fabric of life.
Never together but at the same time, says the title. This parabolic statement reveals and uncovers the author's approach: to deal with the paradox of all of humanity, this original yet joint and simultaneous separation of existences.
Adeline is a familiar figure, a figure of us, a complex reflection. She is divided between her restlessness and her conscientious role of doing what she has to do and to live her life. And we follow her, look at her, hear her, drink her words and accept her refusals.
In his own way, with his own vocabulary and with his deeply poetic manner, Schwartz is able to summon up a world and inaugurate a network of images, moments and words. And he maps out a new and audacious path which, after reading, remains suspended in us, as a triumph of the direction and the line of our destinies.
[Translated by Robert McClure]
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