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INSTITUTO ITAÚ CULTURAL, 08 DE MARÇO DE 2018

Mesa O mal-estar das mediações e o isolamento da arte,

parte do programa Reflexões estético-políticas da MITsp

(Mostra Internacional de Teatro de São Paulo).

[Pergunta]

O mal-estar das mediações e o isolamento da arte

Com base nos acontecimentos de 2017, especialmente, quando o desconhecimento sobre arte contemporânea por parte do grande público foi manipulado de modo moralista em prol de uma agenda reacionária, propomos refletir sobre o lugar da mediação nas artes e, especificamente, no teatro; sobre o prejuízo da invisibilidade ou do mau uso das mediações; sobre a má compreensão das suas funções e dos seus poderes; e sobre suas possibilidades. Parece que existe uma aceleração cada vez mais intensa da emissão da opinião imediata e uma crença na legitimidade dessa não mediação. A rejeição da reflexão, da crítica e da intelectualidade, muitas vezes defendida pelos próprios artistas, que manifestam verdadeiro mal-estar para com as mediações, não seria parte decisiva do processo de isolamento da arte?

[Resposta]

Para ouvir o novo disco do Tom Zé,
era preciso fugir para a casa do vizinho.
Para experimentar Gal Costa,
deixar de escutar a própria voz.

Para conhecer o universo de Daniel Johnston,
era preciso desenhar um novo País.
Para se aproximar de Laurie Anderson,
aprender outro idioma.


Para dançar New Age,
estar longe da família.
Para assistir David Lynch,
inventar uma nova idade.

Para chegar à literatura,
sair da igreja.
Para ler Emily Dickinson,
relativizar o céu poluído.


Para saber de Pagu,
sair da frente da TV.
Foi Maria Gabriela Llansol quem disse:
"viver quase a sós atrai, pouco a pouco,
os absolutamente sós".

O artista é um bicho solitário. Se desloca para conhecer alguma coisa. Precisa pesquisar para encontrar sentido nos objetos, nas ações do dia a dia. Aqueles que se interessam por arte sempre foram bichos solitários, sempre se deslocaram para conhecer alguma coisa. Sempre precisaram pesquisar para encontrar sentido nos objetos, nas ações do dia a dia.

Concertos de música em auditórios e em garagens, leitura de poemas em bibliotecas e em saraus, projeções de filmes em cinemas e em espaços alternativos, peças apresentadas em teatros, na rua, na casa do vizinho. Todos esses ambientes foram idealizados pelos próprios artistas para performarem um certo jogo de liberdade a um público interessado ou curioso por suas atividades.

Para ter a experiência de uma obra de arte é preciso se deslocar. E, quanto mais deslocamento, mais a sensação de isolamento das demandas que autorizam a circulação sem risco nos espaços públicos — é como se o movimento nas ruas expulsasse as ações, os valores que definitivamente não acompanham a sua pressa. A pressa sempre foi mais importante que a arte. E, nem por isso, a arte deixou de ser objeto na História.

Nos últimos vinte anos, o mundo passou por diversas mudanças. Passamos do VHS ao CD e, em seguida, aos Links. A cultura analógica, atualmente, vive ao lado da cultura digital. As formas de se contar uma experiência artística continuam se modificando. Além da voz, dos encontros presenciais, agora existem também os posts, as imagens feitas por smartphones.

Em nossos dias, ainda é preciso se mover para ter uma experiência artística, mas muitas de suas imagens, ações podem nos chegar, também, através da linha do tempo. O contar pode viralizar. A conexão de pessoa para pessoa se expande de pessoa para pessoas (amigos e desconhecidos).

Os posts são espaços de compartilhamento. Uma voz singular com consistência pública. Os posts se tornaram importantes mediadores em nossos dias. Contar o que achou, o que encontrou em uma peça pode não ter apenas um caráter singular, mas um caráter singular em massa. É importante lembrar que o que está sendo compartilhado no lugar do objeto de arte é o que você está pensando.

As redes sociais propõem uma visibilidade d'o que você está pensando. Será que a sensação de isolamento também foi atualizada com a sua chegada?

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